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Direitos do Consumidor na Aquisição de Bens e Produtos: Aspectos Práticos

Direitos do Consumidor na Aquisição de Bens e Produtos: Aspectos Práticos

A aquisição de bens e produtos é uma prática cotidiana para milhões de consumidores, e para assegurar que essa relação comercial ocorra de forma justa e equilibrada, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) estabelece uma série de direitos que garantem proteção e segurança ao comprador. Conhecer esses direitos é fundamental para que os consumidores possam reivindicar o que lhes é devido e evitar abusos.

1. Direito à Informação Clara e Adequada:
O CDC assegura ao consumidor o direito de receber informações claras, precisas e em língua portuguesa sobre os produtos que adquire (art. 6º, III). Isso inclui dados sobre a origem, composição, qualidade, quantidade, preço, garantia, prazos de validade e riscos associados ao uso dos produtos.

Exemplo Prático: Ao comprar um eletrodoméstico, o consumidor deve ser informado sobre as especificações técnicas, o consumo de energia, as instruções de uso e os riscos potenciais, como choques elétricos.

2. Direito à Proteção Contra Publicidade Enganosa ou Abusiva:
O CDC proíbe práticas de publicidade enganosa ou abusiva (art. 37). A publicidade enganosa é aquela que induz o consumidor a erro sobre a natureza, características, qualidade ou preço do produto. Já a publicidade abusiva é aquela que se aproveita da inexperiência do consumidor, incita violência ou discriminação.

Exemplo Prático: Um anúncio que promete que um suplemento alimentar cura uma doença específica, sem comprovação científica, é considerado publicidade enganosa e pode ser denunciado.

3. Direito ao Cumprimento da Oferta:
Toda informação ou publicidade que apresenta uma oferta, promessa ou descrição de um produto cria uma obrigação para o fornecedor, que deve cumprir o que foi anunciado (art. 30). Isso significa que o consumidor tem o direito de exigir que o produto comprado corresponda exatamente ao que foi oferecido.

Exemplo Prático: Se uma loja online anuncia um celular com 128 GB de armazenamento e entrega um modelo com 64 GB, o consumidor pode exigir o cumprimento da oferta original ou a devolução do dinheiro.

4. Direito à Garantia Legal e Contratual:
Os consumidores têm direito a uma garantia mínima de 90 dias para produtos duráveis e 30 dias para produtos não duráveis, independentemente de qualquer garantia contratual oferecida pelo fabricante (art. 26). A garantia contratual é complementar à garantia legal e deve ser fornecida por escrito.

Exemplo Prático: Se uma televisão apresenta um defeito após 60 dias da compra, o consumidor pode exigir a reparação do produto, troca por outro em perfeitas condições ou a restituição do valor pago.

5. Direito à Proteção Contra Produtos Perigosos ou Nocivos:
O CDC protege o consumidor contra produtos que possam representar riscos à saúde ou segurança (art. 8º). Os fornecedores devem alertar sobre possíveis perigos e retirar do mercado produtos que se mostrem defeituosos ou que possam causar danos ao consumidor.

Exemplo Prático: Um lote de brinquedos infantis é recolhido do mercado após constatação de que as pequenas peças podem ser engolidas e causar asfixia. O consumidor tem o direito de receber um produto seguro em troca ou o reembolso.

6. Direito ao Arrependimento:
Em compras realizadas fora do estabelecimento comercial, como pela internet ou telefone, o consumidor tem o direito de desistir da compra em até 7 dias a contar da data de recebimento do produto ou da assinatura do contrato, sem necessidade de justificativa (art. 49).

Exemplo Prático: Um consumidor que compra uma roupa online e decide devolvê-la após experimentar e perceber que não gostou do produto pode exercer o direito de arrependimento e solicitar a devolução do valor pago.

7. Direito à Reparação de Danos:
O CDC assegura ao consumidor o direito à reparação por danos materiais ou morais causados por defeitos nos produtos ou serviços adquiridos (art. 6º, VI e art. 12). Essa reparação pode incluir a substituição do produto, devolução do dinheiro ou indenização por prejuízos sofridos.

Exemplo Prático: Um carro novo que apresenta defeito de fabricação que causa um acidente pode gerar o direito do consumidor de ser indenizado pelos danos materiais e morais sofridos.

8. Direito à Cobrança Correta e à Proteção Contra Práticas Abusivas:
Os fornecedores devem realizar a cobrança correta dos produtos, sem a imposição de valores indevidos. Além disso, práticas abusivas como a venda casada, onde a compra de um produto é condicionada à aquisição de outro, são proibidas (art. 39).

Exemplo Prático: Um consumidor que é cobrado indevidamente por um serviço adicional ao contratar um plano de celular pode exigir a devolução em dobro do valor pago, conforme previsto no CDC (art. 42).

9. Direito à Informação sobre Meios de Pagamento e Condições de Financiamento:
O consumidor tem o direito de ser informado claramente sobre todas as condições de pagamento, incluindo juros, taxas e o custo total de um financiamento (art. 52). Essa transparência é essencial para que o consumidor tome decisões informadas.

Exemplo Prático: Ao comprar um eletrodoméstico financiado em 12 vezes, o consumidor deve ser informado sobre o valor das parcelas, a taxa de juros aplicada e o custo final do produto ao término do financiamento.

10. Direito à Proteção nas Relações de Consumo:
O CDC assegura que as cláusulas contratuais em contratos de adesão, que são aqueles onde o consumidor não pode negociar os termos, devem ser redigidas de forma clara e sem abusividades (art. 54). Cláusulas que prejudiquem de forma desproporcional o consumidor podem ser consideradas nulas.

Exemplo Prático: Uma cláusula que exime uma loja da responsabilidade por defeitos em um produto é considerada abusiva e pode ser anulada judicialmente.

11. Responsabilidade por Falhas na Proteção de Dados e Golpes:
Com o avanço da tecnologia e a crescente dependência de transações online, um dos maiores riscos para os consumidores é a exposição de seus dados pessoais. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) garante que as empresas devem adotar medidas de segurança para proteger os dados de seus clientes.

Caso o consumidor seja vítima de um golpe ou tenha seus dados violados por falhas no sistema de proteção de dados da empresa, ela pode ser responsabilizada por perdas e danos, conforme o art. 14 do CDC, que estabelece a responsabilidade do fornecedor por defeitos relativos à prestação de serviços.

Exemplo Prático: Se uma loja virtual sofre um ataque cibernético e dados pessoais de clientes, como números de cartão de crédito, são vazados, a empresa pode ser obrigada a indenizar os consumidores pelos danos materiais e morais causados pelo golpe.

Conclusão:
O Código de Defesa do Consumidor é uma ferramenta poderosa que protege os direitos dos consumidores na aquisição de bens e produtos. Conhecer esses direitos é fundamental para evitar abusos e garantir uma relação de consumo justa e equilibrada. Ao se deparar com qualquer violação, o consumidor deve procurar orientação e, se necessário, acionar os órgãos de defesa do consumidor para garantir o cumprimento das normas estabelecidas pelo CDC.

Por: Dr. Marco Adriano Marchiori

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